23.6.05

Lavando a roupa suja.

Esse artigo foi escrito por mim para o jornal do Colégio Pedro II Tijuca. Fui convidado, ri um pouco na hora e acabei adorando a idéia. Um jornal que promete ser editado e publicado sem nenhum tipo de censura é algo a se testar. Não sei se vão aprovar o meu artigo, mesmo não tendo nada de anormal ou passível de censura. Como o CPII é um colégio federal, vamos entrar em férias mais cedo, visto que a greve está aí. Por isso o jornal, que seria publicado antes das férias normais só vai ser publicado depois do término da greve dos 18%. Se aprovarem o artigo eu aviso a quem possa interessar.




Lavando a roupa suja.
Lavanderia ao ar livre é o menor dos nossos problemas.


O Colégio Pedro II não é mais o mesmo. Isso é fato. Não há o que discutir ou argumentar. Onde está aquele Pedro II dos áureos tempos? E quando eu falo em áureos tempos eu me refiro ao ano passado. Não precisa ir muito longe, não.


Não vou associar as loucuras que descreverei nesse artigo à entrada da nova diretora Virgília, ou ao nosso mais que querido diretor-geral Wilson Choeri. Não sou tão previsível assim, não se preocupem. Nem camisa do Che Guevara eu tenho...

Nós alunos encaramos dia após dia (alguns nem tanto) certas peculiaridades e bizarrices dentro de aula. Agora não podemos nem chegar quatro vezes atrasados que, veja só, nossos pais são avisados. Cadê o romance? Cadê a ginga e a marotice? Cadê o samba no pé dos cariocas? Tudo por água abaixo. Chegar atrasado agora é luxo. Só três vezes por mês, senão faz mal.

Falando em fazer mal, vamos falar da cozinha do colégio. Não que a comida de lá seja ruim, apenas tem uma aparência engraçada. Um bandejão que serve farinha pura para acompanhar um prato de macarrão tem que ter algo de estranho. O cozinheiro se esforça, eu não duvido, mas sem o queijinho ralado não dá pra viver. Deveríamos fazer greves reivindicando o nosso queijinho ralado, ao invés de chorar aumentos salariais de 0,1%, professores. O que será do nosso futuro sem o queijinho ralado? Temos de exigir nossos direitos. E que o nosso queijinho ralado tenha aqueles cortes maiores, para reforçar o sabor delirante do verdadeiro queijo.

Não que isso seja muito relevante, claro. Relevante mesmo só os prêmios que ganhamos dentro das nossas refeições. Verdadeiros Kinder Ovo's, sem chocolate. Certo dia um amigo meu achou uma ponta de caneta no seu macarrão com farinha. Dias depois, o mesmo amigo achou um pedaço pequeno de uma borracha. Suspeitamos até hoje que se ele continuasse à jantar lá, teria ganho um estojo completo, junto com um cupom para preencher e participar do sorteio de uma mochila da Gatorade.

E o que falar então da ordem de formar para subir às salas? Nem um hino do país toca. Podia pelo menos tocar o hino da bandeira, ou até uma musiquinha qualquer do Latino, só para mudar a rotina de vez em quando.

Se bem que não se pode reclamar de rotina no nosso Pedrão. Certo dia, ao subir para as aulas, os alunos se depararam com varais lotados de uniformes, do 1º ao 5º andar. Ninguém sabe se é arte moderna ou se nossa escola está, de fato, virando uma favela. Um professor falou que até uma merda bem feita na privada é arte moderna. Imagino até um dos alunos que pendurou as roupas chegando em casa e falando pra mãe algo como "Mãe, tu tem que ver a merda que eu fiz hoje no colégio".

Talvez essa arte toda seja um protesto ao nosso presidente. Quem sabe pode ser até um protesto contra as lavanderias e seus preços abusivos, mas acredito mais na primeira alternativa. Lula nunca deu muita atenção ao nosso colégio. Provavelmente é algo contra aqueles que conseguiram passar na quarta série e tentaram um futuro brilhante estudando. Se ele pode ser presidente, eu também posso. Estudar não leva ninguém a lugar nenhum, só não vê quem não quer. A gente quer ser modelo, jogador de futebol, bicheiro, ator da Globo, traficante, cafetão. Se bobear tem gente querendo até ser presidente. Já pensou mandar no país da malandragem? Que beleza! Nem vou mais pras aulas. Fiquei sabendo que só precisa da quarta série. E nem precisa ter 20 dedos, não. Vou pra Brasília amanhã mesmo, tomar um chá gelado com a minha primeira-dama. De lá eu vou lembrar do Pedro II e daquelas medidas bizarras que foram tomadas. Me chamar para escrever um artigo nesse jornal só prova a minha teoria.

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